Vamos falar sobre a Cinomose.
Provavelmente você já ouviu falar sobre essa doença, certo? Quais consequências ela pode trazer para o seu filho de 4 patas?
A cinomose é uma doença infectocontagiosa (muito contagiosa!) que afeta os canídeos, dentre eles, os nossos cães domésticos, mas também pode acometer os furões.
É uma doença grave que pode levar a consequências devastadoras como o óbito, e quando sobrevivem, a cinomose deixa sequelas.
Mas existe prevenção, tratamento e cura!
Nesse conteúdo vou explicar o que é a cinomose, como ocorre sua transmissão, como você pode prevenir que seu amigão se contamine e caso já tenha se contaminado.
Explicarei também como é feito o diagnóstico, tratamento e como lidar com seu cão com sequelas da cinomose.
O que é a cinomose?
A cinomose é uma doença infecto contagiosa causada pelo vírus chamado CDV, Canine Distemper Virus, em português, Vírus da Cinomose Canina.
Biologicamente falando, Morbilivirus pertence a família Paramyxoviridade.
Os animais que podem ser infectados e são mais encontrados dentro das nossas casas são os cães e os furões.
Como a cinomose age no organismo?
Este vírus se replica nos macrófagos (algumas das células de defesa do organismo) no trato respiratório e podem causar febre alguns dias após a infecção.
Posteriormente o vírus vai para os linfonodos (responsáveis por impedir que ameaças atinjam a corrente sanguínea), medula óssea e baço.
Então acabam entrando na corrente sanguínea e atingem o trato gastrointestinal (estômago e intestinos), e por último pode afetar o sistema nervoso central, tanto por via hematógena (através da corrente sanguínea), quanto pelo liquor (líquido cefalorraquidiano responsável por proteger o sistema nervoso central).
Como ocorre a transmissão da cinomose?
A transmissão da cinomose pode ocorrer através de diversas formas:
- Caso o cão passe por um local onde um cão contaminado esteve. Por exemplo, você leve seu cão para passear, e neste local, um cão com cinomose passou por ali, logo, pode ocorrer o contágio;
- Contato direto com cães infectados ou com sua urina, fezes, assim como alimentos, cobertores e camas de animais infectados;
- Consultórios veterinários e pet shops são lugares que são higienizados minunciosamente, pois a visita de cães infectados com cinomose pode ser bastante comum, e outros cães podem eventualmente ser contaminados.
É um vírus altamente contagioso e pode sobreviver por meses no ambiente! Porém, uma boa limpeza o elimina facilmente.
Quais são os Sintomas de cinomose?
Como vimos, o primeiro local onde o vírus afeta é o trato respiratório, portanto, existirá primeiramente a fase respiratória que consiste nos seguintes sintomas:
- Febre;
- Secreção ocular;
- Secreção nasal;
- Tosse seca ou tosse produtiva (com secreção);
- Pneumonia;
- Dispnéia (dificuldade em respirar)
Posteriormente, o vírus afeta o trato gastrointestinal, portanto, a próxima fase de sintomas será em relação a este sistema.
São os sintomas:
- Dor abdominal;
- Diarreia;
- Vômitos;
- Inapetência (animal não sente vontade de comer);
- Anorexia (animal emagrece muito devido ao quadro).
Por fim, a doença progride para a fase neurológica.
Neste momento a doença está muito grave, e provavelmente irá deixar sequelas. Dentre os sintomas neurológicos, o animal irá apresentar:
- Mioclonia (contrações involuntárias dos músculos, o animal vai aparentar estar tremendo, como se tivesse um “tique nervoso”);
- Convulsões;
- Vocalização (animal pode uivar ou latir sem motivos, pois não terá controle sobre essa questão);
- Alteração de comportamento (um cão muito dócil pode vir a ficar mais agressivo, o cão pode não reconhecer seus donos);
- O cão pode andar em círculos e geralmente apenas para um lado;
- Paralisia (o cão pode ficar paralítico).
O animal pode ainda apresentar outros sintomas, como:
- Hiperqueratose nos coxins e focinho. Significa que o cão vai ficar com essas regiões mais espessas;
- Conjuntivite;
- Lesões permanentes na retina;
- Pequenas bolhas na região abdominal.
Como é o Feito o Diagnóstico da Cinomose?
O diagnóstico da cinomose é feito através da história clínica dos animais.
Ou seja, se o cão for jovem, apresentar alguns dos sintomas descritos e não for vacinado, existe uma grande chance de estar com cinomose. Contudo, outras doenças infectocontagiosas causam sintomas parecidos.
Por este motivo exames complementares serão de suma importância, como o hemograma, onde poderá verificar anemia e alteração nas células de defesa do organismo.
O mais comum é que também seja feito um exame chamado de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) e geralmente é feito através de uma amostra de sangue do animal.
Claro, que tudo isso deve ser solicitado pelo seu médico veterinário de confiança.
Como é Feito o Tratamento da Cinomose?
Devemos compreender que cada caso é um caso diferente.
Cada animal irá apresentar sintomas diferentes da doença, e por este motivo o objetivo do tratamento consiste em aumentar a imunidade do animal e tratar os sintomas da doença.
Infelizmente não existe um medicamento específico capaz de tratar o vírus da cinomose.
Como podem ocorrer infecções bacterianas secundárias, antibióticos podem ser utilizados.
Além disso, broncodilatarores e nebulização podem ser utilizados pelas questões respiratórias, antipiréticos em quadros febris, vitaminas do complexo B podem ser utilizadas pois são protetoras do sistema nervoso…
E em quadros de convulsões, será necessário utilizar anticonvulsivantes. Suplementos nutricionais que estimulem a imunidade dos animais também podem ser utilizados.
Reforçando: Somente seu médico veterinário está apto para diagnosticar e tratar essa doença. Não faça isso sem auxílio profissional, para evitar danos ainda maiores.
Qual o Prognóstico?
Geralmente cães jovens e idosos são os mais acometidos devido a queda de imunidade desta população, em especial os cães não vacinados.
A cinomose é uma doença grave e acometendo animais imunologicamente vulneráveis complica a situação.
Contudo, o prognóstico da doença está diretamente ligado a severidade da doença.
A cinomose tem cura, porém, raramente é diagnosticada em estágios iniciais e mesmo curados, muitos animais podem ficar com sequelas.
As Possíveis Sequelas Causadas pela Cinomose
Os cães mesmo curados da cinomose podem ficar com sequelas oculares, neurológicas com repercussão intestinal, e respiratórias.
Vamos falar mais sobre elas e como lidar com estas sequelas da cinomose.
Convulsões podem ficam como sequelas e nestes casos, a terapia anticonvulsivante é necessária.
Como estas medicações afetam diretamente o fígado, será necessário um acompanhamento meticuloso com o médico veterinário.
Alteração de locomoção e equilíbrio, perda de cognição (capacidade de raciocinar corretamente) e mioclonia (os “tiques nervosos”): nestes casos remédios não serão úteis.
As terapias complementares como acupuntura, fisioterapia e a terapia com células tronco podem ajudar a melhorar o quadro do animal.
Paraplegia é a imobilidade do cão, ou seja, o cão perde os movimentos das patas traseiras.
Este é um quadro irreversível, portanto, seu cão vai necessitar de acupuntura e fisioterapia por toda a vida para que mantenha seus músculos ativos, em especial os músculos das patas dianteiras…
Pois mesmo animais normais colocam 80% do seu peso corporal nos membros torácicos, e animais paraplégicos possuem apenas os membros torácicos ativos.
Portanto, cuidar destes membros é fundamental para que possam ter uma melhor qualidade de vida.
Nestes casos, os cães ainda podem perder o controle da bexiga e do ânus, causando constipação ou incontinência urinária.
Sendo necessário muitas vezes o uso de fraldas e a retirada manual das fezes do cão, ou ainda caso o animal não consiga urinar, será necessário esvaziar através de massagens a bexiga do cachorro.
Dicas para cuidar de um cão paraplégico:
- Cadeira de rodas: Certamente ajudam muito os cães nestas condições, porém, vale ressaltar que eles utilizam excessivamente os membros torácicos, portanto, não é aconselhável que o animal passe mais de 30 minutos na cadeira de rodas. O ideal é que coloquem o cão na cadeira de rodas e o leve para seus passeios diários e posteriormente deixe o descansar;
- Hidratantes na pele e constantes mudanças de posição: caso o cão fique muito quieto ou colocação de roupinha com perninha ou ainda um pano para que conforme o cão se arraste não forme feridas;
- Mantenha a higiene do seu pet: pois ele precisará de um cuidado mais especial quanto a isso em casos onde use fraldas para tentar evitar possíveis infecções urinárias (embora infecções urinárias sejam extremamente comuns em cães paraplégicos);
- Brincadeiras: Os cães ao contrário dos humanos, se adaptam muito bem as adversidades. Na realidade, para eles a falta de movimento nos membros pélvicos não faz a menor diferença e a alegria de brincar continuará presente. Portanto, brinque com seu cão. Evite pisos ásperos que ele possa se machucar e aproveite os momentos em que ele esteja na cadeira de rodas também.
- Muito amor e carinho: Estes dois aspectos são essenciais para o bem estar de absolutamente qualquer ser vivo, não é mesmo? 😉
Perda da visão também é irreversível.
Por isso, vamos dar algumas dicas para que você possa cuidar melhor do seu cão especial:
- Organização da casa: Muito importante que a casa esteja sempre organizada e que não mudem móveis de posição rotineiramente, pois o cão se adapta facilmente a localização dos espaços;
- Brincadeiras: O cão pode estar cego, mas continua feliz e quer brincar, não é mesmo? Escolha brinquedos que façam barulho e certamente seu pet vai ficar muito contente;
- Musicoterapia: Músicas auxiliam muito os cães a se acalmarem! Como cães cegos podem ficar mais susceptíveis a sons, certamente a musicoterapia vai ajudar no controle do estresse. Existem playlists especiais nos aplicativos de música, e também no YouTube. Dica: procure como Relax My Dog.
- Evite excesso de barulhos: Como dito anteriormente, cães cegos estão com a audição ainda melhor, portanto, evitar excesso de barulhos é fundamental para ter um cão especial e equilibrado.
- Leve o para passeios e converse muito com seu cão: O passeio faz muito bem para todos os cães, apenas mantenha sempre a guia próxima a você e ajude seu pet quando necessário. Converse muito com seu cão, pois sua voz vai acalmá-lo sempre.
Alterações respiratórias: assim como a mioclonia, que são os “tiques nervosos” visíveis, podem existir espasmos musculares não visíveis como no diafragma, que podem causar soluços constantes.
E como o vírus deixa o animal mais susceptível a infecções, não é incomum que apresentem pneumonia ou ainda muita secreção nasal mesmo após a cura.
Nestes casos, uma nebulização pode ajudar, e suplementos contendo vitaminas e ômegas 3 podem ajudar nos espasmos.
Outra terapia que ajuda muito nestas condições é a acupuntura.
Qual a função das terapias complementares nas sequelas da cinomose?
A fisioterapia é fundamental para manter a qualidade de vida de um animal com sequelas de cinomose.
Mantém o animal ativo de forma que seus músculos estejam sempre fortes, além de minimizar as possíveis dores devido a sobrecarga do peso nos membros torácicos.
A acupuntura pode ser utilizada para os mais diversos fins, inclusive como tratamento da cinomose, dependendo da fase em que se encontra a doença (ou em todas as fases! Não há um consenso absoluto sobre esta questão).
Mas a acupuntura e a fitoterapia podem ajudar imensamente a equilibrar o animal como um todo. Corpo e mente. Desta maneira, a qualidade de vida do cão é preservada.
Células tronco estão sendo utilizadas para minimizar as sequelas da cinomose, e em muitos casos com sucesso.
Muitos estudos ainda estão sendo feitos, mas é uma nova terapia que pode ser de grande ajuda para o seu amigão que teve cinomose.
Como Previnir a Cinomose?
Eis um ponto muito importante: a prevenção!
Cinomose tem prevenção? SIM. A prevenção é feita através da vacinação.
As vacinas v8, v10 e v11 protegem o cachorro da cinomose (dentre outras doenças).
Sendo a primeira dose aos 45 dias, a segunda dose aos 30 dias, e a terceira dose após 30 dias da administração da segunda dose.
Em alguns casos, o médico veterinário pode optar pela quarta dose. O reforço da vacina deve ser anual.
Por isso, fique de olho nas vacinas para cães.
Conclusão
Como foi mostrado neste conteúdo, a cinomose é uma doença potencialmente fatal.
E quando não fatal, pode deixar sequelas que afetarão a qualidade de vida do animal, assim como a qualidade de vida dos seus pais humanos, pois vão necessitar de ainda mais amor e dedicação.
Porém, a cinomose tem cura e acima disso: prevenção.
Vacine seu cão corretamente enquanto filhote e continue a vacinação anual para evitar maiores complicações, enfim, não vale a pena arriscar, não é mesmo?
Espero ter te ajudado com essas dicas.
Por mais bem escrita e detalhada que a matéria venha a ser, ela não substitui uma consulta ao seu veterinário de confiança.
E pior ainda, o Amor aos Pets não tem INTENÇÃO ALGUMA de substituir uma consulta médica ou de indicar quais os melhores remédios, pomadas, antibióticos, etc, contra o problema.
Referências externas:
- Tratamento de sequelas neurológicas em cães causadas pelo vírus da cinomose, através do transplante alogênico de células mononucleares da medula óssea.
- Diagnóstico da Cinomose.
- Cinomose Canina. Revisão de Literatura.
- Neuropatologia da Cinomose.
- Efeito da Acupuntura no tratamento de sequelas neurológicas em cães decorrentes de cinomose.